sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Carta Aberta aos Alunos

Cabo Frio, 30 de dezembro de 2009.




Caros alunos do IFFluminense Campus Cabo Frio,


        Embora seja tempo de desejar Feliz Ano Novo, outro motivo nos leva, prioritariamete, a falar com vocês todos: a DESTITUIÇÃO DO CARGO DO DIRETOR DESSE CAMPUS CABO FRIO DO PROFESSOR CÉSAR LUIZ DE AZEVEDO DIAS E SUA REMOÇÃO IMEDIATA PARA O CAMPUS CAMPOS-CENTRO, ato assinado pela reitora do IFFluminense, Cibele Daher, no dia 28/12/2009.
        Vivemos um momento de perplexidade e acreditamos mesmo que esta Instituição Centenária, nem durante o período da Ditadura, sofreu tamanha agressão aos direitos dos seus servidores e/ou alunos.
        É bom que saibam que muito antes de vocês chegarem ao campus Cabo Frio, aqui estava o professor César Dias, como educador, engenheirando esta escola. Ele estava presente no diálogo com a prefeitura de Cabo Frio, posteriormente pensando as reformas do prédio para que o campus se tornasse um espaço agradável e de aprendizagem significativa, da cor da “esperança”... Assim, cada desenho, cada mudança, cada equipamento recebia a sensibilidade do educador que mais tarde tornou-se o diretor do campus.
        Foi este espaço físico humanizado que pouco a pouco despertou em nós o espírito de pertencimento; percebíamos o cuidado do gestor no sentido de oportunizar situações em que todos tivessem voz. Certamente esta foi uma das razões para que, em um ano apenas, víssemos a escola crescer tanto em tão pouco tempo. Os profissionais que aqui chegaram abraçaram o desafio do trabalho coletivo e participativo, motivados ainda pelo entusiasmo, pela curiosidade e pelas expectativas que vocês traziam.
        Não erramos ao afirmar que a nossa escola responde com competência aos investimentos e expectativas dos governos Federal e Municipal. Só queremos realizar o que fazemos de melhor: TRABALHAR PARA E PELA EDUCAÇÃO.
        E quando o ano letivo termina e já estamos em fase de projetar o futuro, somos surpreendidos por essa atitude da reitora, que de forma arbitrária, sem qualquer juízo de valor a respeito do trabalho educativo que foi desenvolvido neste campus (trabalho que temos certeza traz saldo altamente positivo). Ela não só DESTITUI como o impede de permanecer em Cabo Frio, TRANSFERINDO-O PARA CAMPOS.
        Dos poucos argumentos apresentados para esta atitude, destacamos um que diz respeito mais diretamente a vocês: o resultado da eleição para membros do Conselho Superior dia 10 de novembro último, quando os candidatos apoiados pela reitoria não foram os escolhidos nem pelos alunos nem pelos servidores do campus Cabo Frio, acusando inclusive o grupo gestor de ter induzido o voto e as decisões de cada um de vocês, fato que bem sabem ser uma inverdade, haja vista que nossa preocupação foi a de criar condições para que se organizassem sem qualquer intervenção nas decisões que vocês tomassem, pois sabemos da importância da participação dos alunos para a construção de sua autonomia.
        Vocês se organizaram, elegeram seus representantes, dialogaram com outros campi e fizeram suas coligações, numa verdadeira prática democrática. Sem sombra de dúvidas, reconhecemos que a eleição de candidatos a membros do Conselho Superior do IFFluminense foi uma excelente oportunidade para acelerar o processo de constituição do Grêmio Estudantil.
Diante dos fatos, devemos nos questionar: qual o papel educativo desse ato da reitora que se opõe ao direito do exercício democrático?
        Nos momentos mais difíceis de nossa trajetória, é importante que nossa posição seja coerente com os princípios e valores que defendemos. Por esta razão, não posso deixar de externar a minha posição contrária a esta medida adotada e permitir que uma atitude desta natureza fique sem resposta em nosso coletivo, pois, além de comprometer o sucesso do Campus Cabo Frio, também atinge a dignidade do trabalho de servidores cuja seriedade, competência e comprometimento são evidentes. NEGO-ME a permanecer como diretora de ensino de uma instituição onde acusações não verdadeiras se transformam em justificativas para tomadas de decisão injusta e impositiva.
        Despeço-me de vocês com um pedido: NÃO SILENCIEM!



Um forte abraço,
Ana Lucia Campinho



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"Obriga-o a compor a mentira alheia para a usar como se fosse a própria verdade. Permeiam a nossa obediência, castigam a nossa inteligência e desalentam a nossa energia criadora. Somos opinados, mas não podemos ser opinadores. Temos direito ao eco, não à voz, e os que mandam elogiam o nosso talento de papagaios. Nós dizemos não: nós negamo-nos a aceitar esta mediocridade como destino.
Nós dizemos não ao medo. Não ao medo de dizer, ao medo de fazer, ao medo de ser. O colonialismo visível proíbe dizer, proíbe fazer, proíbe ser. O colonialismo invisível, mais eficaz, convence-nos de que não se pode dizer, não se pode fazer, não se pode ser. E neste estado de coisas, nós dizemos não à neutralidade da palavra humana. Dizemos não aos que nos convidam a lavar as mãos perante as quotidianas crucificações que ocorrem ao nosso redor. À aborrecida fascinação de uma arte fria, indiferente, contempladora do espelho, preferimos uma arte quente, que celebra a aventura humana no mundo e nela participa, uma arte irremediavelmente apaixonada e briguenta."

GALEANO, Eduardo, Nós Dizemos Não, Editora Revan, Brasil, 1990.






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