sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Carta de Repúdio



        Golpes políticos são marcados por atitudes repugnantes. No Instituto Federal Fluminense não é diferente. Na tarde de 30 de dezembro deste 2009, às vésperas do final do ano, somos surpreendidos com a notícia de que a Reitora da nossa Instituição destituíra o diretor do nosso campus, Cabo Frio, e sinalizara a transferência de toda a equipe de volta para o campus sede. Em portaria assinada no dia 28/12/2009 e publicada no Diário Oficial da União do dia 30/12/2009, Cibele Monteiro exonera o Professor César Luiz de Azevedo Dias da direção do campus, e, logo em seguida, nomeia a até então Pró-Reitora de Ensino, Romilda Suinka, para o cargo de diretora.
        No meio de toda essa reviravolta, uma explicação foi apresentada para que as atitudes de Cibele adquirissem algum sentido. E a explicação é mítica: a Reitora alega que no decorrer das eleições para o Conselho Superior, ocorridas no último 10 de novembro, – quando, ressalte-se, os candidatos apoiados pela Reitoria não foram os escolhidos nem pelos alunos nem pelos servidores do campus Cabo Frio – a direção do campus teria manipulado os alunos em suas decisões e votos, fator pelo qual o diretor César e sua equipe deveriam ser afastados de suas funções. O problema reside no fato de que a informação não procede – como foi definido na Nota de Esclarecimento divulgada por este Grêmio Estudantil. Logo, cai por terra o argumento da Reitoria.
        Diante de tais fatos, pairam algumas indagações: por que a destituição do Professor César? Qual o real motivo? Por que essa decisão é tomada justamente nessa época do ano, quando a comunidade acadêmica está completamente dispersa e impossibilitada de exercer seu papel de repúdio? Aliás... onde está a democracia nessa decisão tomada pela Reitora? Cibele aniquila o direito democrático de alunos, funcionários e professores do campus ao publicar suas portarias tirânicas sem ao menos fazer uma consulta a todos nós.
        Perante tudo isso, a impressão que nos fica é de que Cibele Monteiro cultiva uma picuinha política com nosso campus e nosso diretor. Amanhã entra em vigor a autonomia dos campi. Ao destituir o Professor César da direção do campus Cabo Frio, transferir sua equipe para o campus sede, e preencher a vaga com Romilda Suinka, - tudo feito em 30 de dezembro, a dois dias das novas regras que impossibilitariam essa manobra - Cibele Monteiro monta sua conjuntura política. Quando o processo eleitoral para o cargo de diretor do campus for iniciado, a única pessoa que cumpre todos os requisitos para se candidatar será Romilda. Transferindo César Dias e sua equipe para o campus Campos, a Reitora impede que qualquer um deles seja candidato ao cargo. Daqui a quatro anos, quando houver novas eleições para diretor do campus, novamente a única candidata apta será Romilda Suinka.
        Ao se utilizar do Instituto e de porcas artimanhas políticas para resolver seus problemas pessoais, Cibele revela uma faceta inaceitável para o cargo que ocupa. Nós, alunos, não podemos sucumbir a esse tipo de caráter déspota. Seja qual for o motivo da Reitoria para a exoneração do Professor César Dias da direção, por que não mantê-lo em Cabo Frio e deixar que o corpo do campus decida, em eleições diretas, quem deve ocupar o cargo? Para uma Reitoria que teve um lapso democrata, essa deveria ser uma atitude digna. O que não podemos e não faremos é deglutir oito anos de Romilda Suinka goela abaixo. É inaceitável.
        O Instituto pertence àqueles que nele estão. Isso inclui alunos, professores e funcionários. A democracia deve ser respeitada. Não toleraremos atitudes arbitrárias. O comportamento da Reitora Cibele Monteiro nos remonta a abril de 64. Se os tempos de ditadura voltarem para o Instituto Federal Fluminense, o que nos conforta é que, apesar da luta, a democracia vence no final da história. E, além do mais, a luta não nos preocupa, estamos preparados. Se preciso for, lutaremos com gosto. Junto com professores e funcionários do nosso campus, nós, alunos, elegeremos democraticamente a direção que queremos. Custe o que custar. O que não podemos é deixar que nossa fábrica de futuros se torne um brinquedo na mão de políticos travestidos de educadores.


Cabo Frio, 31 de Dezembro de 2009




Thomas Speroni
Presidente do Grêmio Estudantil




Fernanda Ramos
Diretora de Imprensa







Nenhum comentário:

Postar um comentário




"Obriga-o a compor a mentira alheia para a usar como se fosse a própria verdade. Permeiam a nossa obediência, castigam a nossa inteligência e desalentam a nossa energia criadora. Somos opinados, mas não podemos ser opinadores. Temos direito ao eco, não à voz, e os que mandam elogiam o nosso talento de papagaios. Nós dizemos não: nós negamo-nos a aceitar esta mediocridade como destino.
Nós dizemos não ao medo. Não ao medo de dizer, ao medo de fazer, ao medo de ser. O colonialismo visível proíbe dizer, proíbe fazer, proíbe ser. O colonialismo invisível, mais eficaz, convence-nos de que não se pode dizer, não se pode fazer, não se pode ser. E neste estado de coisas, nós dizemos não à neutralidade da palavra humana. Dizemos não aos que nos convidam a lavar as mãos perante as quotidianas crucificações que ocorrem ao nosso redor. À aborrecida fascinação de uma arte fria, indiferente, contempladora do espelho, preferimos uma arte quente, que celebra a aventura humana no mundo e nela participa, uma arte irremediavelmente apaixonada e briguenta."

GALEANO, Eduardo, Nós Dizemos Não, Editora Revan, Brasil, 1990.






Contador free